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Volta às aulas em agosto pode ser genocídio

O governo de Rondônia pretende que as escolas públicas do estado reabram ainda no mês de agosto. Para não perder o semestre, a proposta pode fazer estudantes e seus familiares perderem a vida. Em todo o país, apenas 21% defende a volta às aulas presenciais. O mês de julho não começou alvissareiro em Rondônia, com mais de 20 cidades na fase mais rígida de distanciamento proposto pelo próprio governo. Entre elas, estão as mais populosas do estado: Porto Velho, Ji-Paraná, Ariquemes, Vilhena, Cacoal, Rolim de Moura, Jaru e Guajará-Mirim, todas com mais de 40 mil habitantes.

Os meses de junho e julho, até o momento, apresentam os piores resultados em Rondônia, com um acumulado de 555 vidas perdidas. Até abril, foram 16 mortes, subindo para 156 no final de maio. Em junho, atingiu-se um total acumulado de 518; ou seja, foram 362 vidas perdidas, em comparação às 140 do mês anterior. Os primeiros cinco dias de julho trouxeram 37 vítimas, quase três vezes mais do que o mesmo período em maio, com 14 mortes. Esses números deixam evidente que este não é o momento adequado para o retorno das aulas.

A decisão do governo rondoniense de colocar os estudantes de volta às salas, caso se confirme, parece sem precedentes. Os estados brasileiros com um pouco de controle sobre a pandemia da COVID-19 não indicam um retorno para o próximo mês. São Paulo, por exemplo, não reabre antes de setembro. Enquanto as decisões políticas em todo o país são deliberadas em reuniões on-line, com cada parlamentar em sua casa, a intenção por aqui é levar milhares de alunos a um espaço de constante contato.

As experiências de lugares que voltaram antes do tempo não foram fortuitas, mesmo em condições bastante melhores do que a nossa. Os estudantes precisaram retornar ao isolamento logo em seguida em virtude do aumento de contagiados. A reabertura programada das escolas em Rondônia apresenta equívocos, como destinar apenas duas máscaras e um protetor facial para os profissionais.

O problema da Secretaria de Educação é desconsiderar ainda o que envolve uma volta às aulas. Até os alunos chegarem às escolas, inevitavelmente, entrarão em contato com outras pessoas. Uma vez intramuros, é de se esperar aproximações entre os estudantes, rompendo o distanciamento seguro, se houver espaço para este procedimento. Além disso, antes da COVID-19, muitas escolas já apresentavam problemas básicos, como falta de água e de papel higiênico.

O governo se propõe, entretanto, não apenas a disponibilizar inicialmente uma série de produtos exigidos por órgãos como a Organização Mundial de Saúde, mas ainda a mantê-los até o final da pandemia. O dilema para os responsáveis pelos estudantes é escolher entre eles perderem o ano ou colocarem seus familiares em risco de perder a vida.

 

Allysson Martins é jornalista, professor e coordenador do MíDI – Grupo de Pesquisa em Mídias Digitais e Internet da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

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