PARADOXO PANDÊMICO: vírus não foi embora, mas ameaça volta nervosa
É espantosa a incapacidade do brasileiro de aprender com o exemplo alheio. Chegou a segunda onda da COVID-19 na Europa, com alguns países registrando mais casos do que na primeira onda. A Europa nos avisou do perigo da pandemia no mínimo um mês antes de ela chegar aqui. Vimos todo o terror se desenvolver por lá. Poderíamos ter escrito uma história bem diferente, menos trágica. O que fizemos? Grande parte da população preferiu dar ouvidos ao “louco varrido” que ocupa a presidência da República.
Além do Velho Continente, a segunda onda chegou a Manaus. Alguns hospitais de referência no tratamento da COVID-19 da capital amazonense já estão com 100% dos leitos ocupados. Uma nova “casa dos horrores” já está desenhada para aquela cidade – com linhas bem traçadas, com riqueza de detalhes.
Enquanto Europa e Manaus se enterram na segunda onda, o que o restante do Brasil faz? Abre mão das poucas medidas de segurança sanitária que ainda estavam em vigor. Abre-se tudo: igrejas, teatros, cinemas, botecos, restaurantes, parques. O Brasil envolveu-se no perigoso manto da falsa sensação de segurança que paira sobre o país por conta da tímida baixa no número de casos e mortes pela doença. Os 500 óbitos por dia parecem pouco, mas é uma ilusão ingênua de um país que já registrou quase 1.400 mortes diárias.
Em supermercados, farmácias e panificadoras, fui hostilizado por exigir de outros consumidores o respeito ao meu direito de manter o distanciamento social nas filas. Quer dizer: além da cegueira coletiva, paira no ar também um cheiro de estupidez coletiva. Como bem disse Albert Einstein: “Só para duas coisas não existem limites: o universo e a estupidez humana”.
A nau está, mais uma vez, à deriva. Esqueçam os governantes, pois na prática não os temos. O negócio é cada um cuidar de si e dos seus. E vida longa a todos. Tintin.
Marcus Fiori é jornalista e professor de Jornalismo na Universidade Federal de Rondônia (UNIR).
