mimiMíDI

Jornalistas não produzem fake news

O jornalismo é uma instituição que busca a verdade, já quem cria e espalha fake news, trabalha com a mentira em um processo articulado para a desinformação da sociedade. Este esquema dissemina ainda a descrença na instituição jornalística. Por isso, tratar erros jornalísticos como “notícias falsas” é mais que um equívoco, é uma contribuição para a desinformação dos indivíduos ao desvalorizar uma instituição fundamental para o bom desenrolar da democracia. O jornalismo busca sempre apurar e divulgar a informação verdadeira.

O jornalista e o veículo podem cometer erros e até disseminar informações incorretas, porém, diferentemente dos propagadores de fake news, os jornalistas não possuem a intenção deliberada de enganar quem consome seus conteúdos. O profissional pode se enganar por incompetência ou falta de mecanismos suficientes para perceber o erro na apuração, porém, quando percebe que os supostos “fatos” são “fakes”, corrige-se e informa corretamente.

Por tratar-se de uma instituição com credibilidade, não é coincidência que algumas informações falsas espalhadas se valem de uma estrutura próxima da produzida pelo jornalismo. Essa estratégia, se não garante credibilidade, ao menos diminui a confiança nesta instituição; a ideia que passa nem sempre é “acredite no que a gente diz”, mas desconfie do que publicam as organizações jornalísticas.

Muito conteúdo de fake news que circula, de fato, aproxima-se menos de uma produção jornalística do que de uma fonte testemunhal ou de um documento verossímil. Afinal, como não acreditar em alguém que diz ter visto algo? Ou como não confiar em uma imagem ou um vídeo? A tendência a aceitar informações que corroboram crenças e valores facilita a equação, sobretudo quando disseminadas por pessoas de quem se gosta e confia; estudos sobre exposição seletiva e viés de confirmação não são recentes.

As fake news ganharam popularidade a partir de 2016, durante a campanha para a presidência dos EUA, culminando na eleição de Donald Trump. No Brasil, muito começou a se falar das fake news em 2018, na campanha presidencial que terminou com a eleição de Jair Bolsonaro. Os dois presidentes, desde então, tentam dirimir a credibilidade jornalística ao desqualificar constantemente suas produções, inclusive, classificando-as como fake news. Essa associação precisa ser combatida, sempre evidenciando as diferenças entre elas.

 

Allysson Martins é jornalista, professor e pesquisador do MíDI – Grupo de Pesquisa em Mídias Digitais e Internet da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

 

Para conhecer
Edson Tandoc Jr., Zheng Lim e Richard Ling. Defining “fake news”. A typology of scholarly definitions.
Henry Jenkins. Cultura da conexão: criando valor e significado por meio da mídia propagável.
Michael Schudson. News and democratic society: past, present, and future.

midi

MíDI - Laboratório de Mídias Digitais e Internet

Pular para o conteúdo