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Governador de Rondônia menospreza democracia ao atacar jornalismo

Marcos Rocha fez acusações genéricas ao jornalismo, sem sustentá-las, durante uma entrevista via Facebook. É grave um governante dizer que a mídia tem “fraqueza moral” e faz “comentários errados“, com profissionais que “só sabem trabalhar dessa forma, levando a mentira“, além de usar expressões como “jornalecos” e “propagadores de fake news“. Essas ideias servem para desabonar o jornalismo, sobretudo ao não citar as empresas específicas e comprovar suas denúncias. Ao contrário, o governador atingiu a democracia quando atacou a instituição do jornalismo e enalteceu um canal sem credibilidade.

O coronel da polícia militar, que se elegeu em 2018 pelo PSL, ainda expôs o óbvio para tentar diminuir a importância do jornalismo, ao insinuar que as empresas jornalísticas querem dinheiro. Enquanto organizações no sistema capitalista, essa contradição está superada há quase meio século. O jornalismo pode produzir algo para ser vendido, mas não é qualquer produto. O seu resultado tem como matéria prima a realidade dos fatos, lapidada por meio de técnicas próprias da profissão, aprendidas após anos de experimentações teórica e prática. Em sua conta pessoal, a jornalista Jéssica Chalegra abordou um pouco das fake news propagadas pelo governador sobre o jornalismo e a COVID-19, inclusive, menosprezando o impacto da pandemia. O governante realizou também ataques imprecisos à única universidade pública do estado, Universidade Federal de Rondônia, como explicado pela agência de checagem de fatos Aruana.

O governador de Rondônia criticou indistintamente o jornalismo, sem especificar nenhum veículo, enquanto concedia entrevista a um canal abertamente parcial e posicionado ideologicamente, legitimando um espaço não jornalístico e sem a mesma responsabilidade social. Em estratégia semelhante a dos presidentes do Brasil e dos EUA, o governador de Rondônia imputa aos jornalistas algo que não faz parte do seu ofício: produtores e propagadores de fake news.

As atitudes e os posicionamentos de Marcos Rocha se tornam mais graves quando se observa mais atentamente o veículo escolhido para divulgar seus impropérios. O problema não é o alinhamento ideológico ou a exclusividade concedida, mas o canal propagar exatamente as fake news que ele acusa o jornalismo de fazer. Para não ficar na superficialidade, seguem prints da desinformação espalhada, somente nos últimos dias, pelo espaço destacado pelo coronel, contendo: desabono ao jornalismo, propagação de teoria da conspiração e ataque à honra de indivíduos. O fantasma do (inexistente) comunismo ainda ronda os incautos.

O clima beligerante de uma campanha eleitoral ainda transparece na fala do governador eleito em pleito democrático, com frases como: “Eu fui eleito governador lutando contra mentiras” e “Vote certo!”. A América Latina e o Brasil já se deram mal com militares que menosprezaram a democracia, por isso, esses posicionamentos não podem passar incólumes. O caudilhismo não pode ser (res)suscitado. A história precisa ficar no passado, para que se olhe e se aprenda, mas não se repita.

 

Allysson Martins é jornalista, professor e pesquisador do MíDI – Grupo de Pesquisa em Mídias Digitais e Internet da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

 

Para conhecer
Adelmo Genro Filho. O segredo da pirâmide.
Cremilda Medina. Notícia: um produto à venda.
Edson Tandoc Jr., Zheng Lim e Richard Ling. Defining “fake news”. A typology of scholarly definitions.
Karl Marx e Friedrich Engels. O manifesto comunista.
Michael Schudson. News and democratic society: past, present, and future.

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